quarta-feira, 20 de março de 2013

Carta de alforria



Estou cansada disso tudo. Dessa coisa de querer e não poder, de certo sendo errado e errado sendo certo para alguns Vips. Cansada de ser obrigada a chorar primeiro para ganhar o direito de rir depois, ao invés de chorar de tanto rir. Cansada de fundir minha capacidade pensante, tentando encontrar soluções para problemas que nem ao menos foram criados por mim. Cansada de ser o problema. Cansada de esperar o querer do que ou de quem eu quero. Estou visivelmente cansada de ter que ouvir opiniões que não peço, de ser julgada pelo que não faço ou ser taxada do que não sou. Estou exausta de ouvir mentiras “necessárias” e elogios interesseiros. 
Não quero mais que queiram a minha felicidade, quero que a deixem para mim. Não quero conselhos, quero suporte para quando eu cair. Quero que escutem a minha voz, antes de darem nota pelo meu corpo.
Estou cansada de ser obrigada a ouvir “verdades”, que na verdade verdadeira, são baseadas em achismos. Estou definitivamente cansada de a minha direita ser sempre a esquerda do outro.
Contudo, não estou cansada da vida, afinal não pude aproveitá-la ainda. Estou esperando, pacientemente, há 29 anos, o carteiro chegar com uma correspondência que “diga”: “Você já está autorizada a viver, vá e seja feliz a sua maneira! Ass.: aqueles que não têm nada a ver com a sua vida.”.

Lici Cruz