sábado, 23 de novembro de 2013

C.


Há tempos que eu não escrevo um poema
Há tempos que de tempo em tempo
Passo em branco por folhas brancas
Talvez por, no esquecimento,
Ter entregado ao vento
Meus sentimentos de morte ou de amor

Sem dor ou lamento
Ou carinho em flor
Não há rima que preste
Não há choro ou vela que se reze

Mas enquanto o tempo não se fez
Dei a alguns suspiros sua vez
Razão e motivo pelos quais eu escrevo

Suspiros de ais inconformados
De seres impossibilitados
De amar sem pecado
Fadados
A beijos e a abraços isolados
Cada um no seu desejo 
Cada outro no sorriso vivo dos olhos fechados

E como de angústia também se faz verso
É nesse não poder que hoje eu tropeço
Minha (po)ética tão esquecida

E para não chorar mais
Deixo um recado
Aos desenganados e aos enamorados:
Que nunca seja cedo demais para sentir
Que nunca seja tarde demais para ver partir
Pois são os suspiros que mais revoltam a razão
São os suspiros que mais doem na alma

Lici Cruz

sábado, 16 de novembro de 2013

O curioso caso de uma mente sem lembranças


Encontre o erro de coerência nas frases: “Mãe diz aplicar Botox na filha de sete anos para evitar rugas no futuro.”, “Menino de dez anos trabalha doze horas por dia para ajudar no sustento da casa, e diz que seu maior sonho é, um dia, poder ir à escola.”, “Depois dos quarenta, ex-Miss Universo, obcecada pela beleza, fica com parte do rosto queimado após tratamento estético.”, “Rogério Ceni diz que está no auge da sua carreira e que se sente um menino ainda, e renova contrato com o São Paulo até 2020.” – ok, essa última foi zoação, mas o assunto é sério.
Se você não encontrou nada de anormal nas três primeiras frases, é bem provável que você sofra da “Síndrome da negação ou da falta de noção etária”, cujos sintomas e efeitos são a adultização de crianças, com a destituição pueril e quebra de qualquer direito à infância; e a não aceitação do amadurecimento e evolução do processo natural humano, resultando na perda da noção de tempo, da capacidade de viver e do sentido do por que se vive.
A dor de ver o tempo agir em nossos músculos, em nossa pele, em nossa memória; de ver nossos sonhos, antes tão inteiros e convictos, “Darwinizarem-se” e, para não se extinguirem, tornarem-se “desejos de um dia quem sabe...”; essa dor toda de chão pisado, de cabelos perdidos e de olhos cansados, não é e nunca será maior do que a dor de olhos novos impedidos de brilharem e de mãos e pés, pequenos e ágeis, proibidos de bolas, bonecas e conquistas. Essa dor também pode até parecer mais intensa, mas nunca será tão cruel como a de um corpo se despedindo da sua alma. Corpo esse que, tardiamente, se arrependeu pelo egoísmo de ter “cuidado” tanto de si próprio, ao ponto de nunca ter dado a essa alma, sequer, um par de sonhos novos, ou perguntado como ela estava se sentindo, como tinha sido o seu dia ou se ela precisava de algo.
A vida é sim passageira, mas quem decide a prudência ou a imprudência do trânsito ainda é o motorista. Portanto, se encher a cara de estupidez ou abusar na ignorância, peça ajuda ou espere o ignóbil efeito passar.
Não arrisque a sua vida. Não acelere a vida do outro. Alguns caminhos ou atitudes podem não ter volta.


Lici Cruz

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

“Independência ou morte!”


Enfim chegamos à Era da autonomia didática, onde tudo se aprende e tudo se ensina por meio qualquer que não seja o árduo esforço docente ou a calva ou esbranquiçada cabeleira de um responsável.
Tudo o que se aprende é previamente compartilhado, curtido ou indicado. Respostas para assuntos antes tão estudáveis hoje são facilmente pesquisáveis e entendíveis. Compreensíveis? Não, não é necessário, é perda de tempo para os (sub)gênios modernos.
As leis atuais de libertinagem (em contrainterpretação à liberdade) e de críticas sem fundamentos, também são “justas” sancionadas por essa geração de imediatos, de pessoas sem tempo para entenderem o que dizem ou para quem dizem. Tudo pode. Tudo é válido. Afinal, o direito de expressão foi conquistado, e qual é o desfrute do prêmio se não se puder, finalmente, falar, sem base nenhuma (isso não importa) o que se acha de quem ou do que se quer falar.
Analisar, interpretar, compreender? Pra quê? Gritar? Isso sim! Contra tudo e todos os que forem contrários ao que o grupo propor. Até que este se torne chato, ou que outro mais radical e maneiro se faça. Não é difícil trocar de grupo hoje em dia, afinal, não se fazem mais amigos com esforçantes abraços, afinidades ou afins, ou com o simples amor ao próximo. Não, isso é ultrapassado!
Pois é, é gente demais sabendo demais sobre coisas demais. Porém, mesmo com tantas verdades, justiça e conhecimento, baseados em “estou certo e ponto!” ou em “Eu vi no face ontem”, confesso que ainda tem coisas que me assustam nessa “geração know-how” de professores, juízes, analistas e sabiologistas autodidatas. Por exemplo, às vezes tenho receio em sair às ruas, vai que em uma dessas sou agredida, assaltada ou estuprada e a culpa seja minha e não do bandido? O melhor a se fazer talvez seja pedir uma pausa a ele e, em pose para a câmera, exigir-lhe um motivo, e, seja ele qual for e se a vida me for poupada, postar o vídeo em rede social e torcer para que o veredicto seja a meu favor. Caso não seja, posso postar uma foto minha, dizer que fui sequestrada e pedir que, se me encontrarem, devolvam-me para o passado mais próximo. Lá onde a luz no fim do túnel ainda era de esperança e não de um monitor ligado.

Lici Cruz


domingo, 13 de outubro de 2013

A Lici e o Espelho 5


Lici: Bom dia!
Espelho: Bom dia, minha linda!
— Espelho, você está bem?
— Estou ótimo! E você também parece estar muito bem...
— Espelho, eu não estou te reconhecendo. O que aconteceu? Por que essa gentileza toda?
— Nada, minha Deusa...
— Deusa?! Espelho, você bebeu Xampu? Enxaguante bucal? É o calor? Você jamais, em estado normal, iria me tratar bem assim...
— É que andei refletindo, sabe, e percebi o quanto gosto de você. Quando você acorda pela manhã com aquele seu cabelo “Lion King” e aqueles olhos inchados – às vezes só um aberto –, com aquela remelinha brilhante no cantinho. Quando você dá aquele seu lindo sorriso, tentando desgrudar os lábios, com aquela babinha alva e seca que se estende do canto da boca até o lóbulo da orelha. Pensei também no amarrotado da sua pele esculpido pelas dobras do lençol, e ainda naquela voz de locutor de rádio de notícias que, às vezes, me dá um certo medinho, mas logo vejo que é você mesmo. Gosto também quando você escova os dentes e me olha com aquela boca cheia de espuma, parecendo um cão raivoso, acho super engraçadinho... e quando você ergue os braços para arrumar o cabelo e vejo aquele tríceps de benzedeira balançando... me sinto abençoado... você me preenche, sabe... principalmente quando surge de corpo inteiro. Às vezes até me sinto pequeno diante de você...
— Você é um estúpido, Espelho! Um idiota-ignorante!
— Ei, volta aqui! Isso é o que dá querer agradar! Se sou realista, reclama. Se sou sensível e carinhoso, reclama. Nada está bom pra você e... Lici, espera! Calma! Vamos conversar! Onde você arrumou esse martelo?! Você nem tem martelo em casa!
— Aaaaaaaahhhhhhh!!!
— Aaaaaaaahhhhhhh!!!

Lici Cruz

domingo, 15 de setembro de 2013

Batata quente



Em uma via de mão dupla, a sua liberdade vai até onde começa a liberdade do outro, e sua responsabilidade começa onde termina a do outro.
Algumas vezes meus pais precisaram atender a algum chamado da coordenação ou orientação pedagógica durante o meu período escolar. Não que eu desse muito trabalho, mas, admito hoje, conversava demais. Não que isso me prejudicasse em relação às notas, mas prejudicava os outros.
Meus pais nunca concordaram com as reclamações... com as minhas reclamações. Não me educaram para atrapalhar. Não me educaram para desrespeitar o direito do outro de ensinar e nem o do próximo de aprender.
As notas sempre foram notadas; as reuniões comparecidas; as reclamações ouvidas, e os elogios também, e todos repassados, tantas quantas vezes necessárias, até que eu aprendesse a diferença entre uma conduta acertada e um mal desnecessário.
“Não converse fora de hora; não brigue, não bata; não xingue; respeite; estude; não atrapalhe; seja humilde; quando não souber, pergunte; seja solidária; ajude; seja boas et ceteras e evite as más reticências...”. Tudo isso eu carregava de casa para a escola e nunca me incomodou ou pesou mais em minha mochila. Pelo contrário, carreguei, e carrego sempre, valores vindos de casa, para, justamente, ter mais tempo e espaço para alimentar, desenvolver e preencher meu sapientíssimo intelecto.
O que vejo, hoje, são escolas virando-se em avessos para corrigir as falhas sociais dos seus pupilos e pais preocupados em não ter preocupações.
É fato que no faturamento líquido de um dia, ninguém, ou quase ninguém, goza das plenas vinte e quatro horas, das saudáveis oito horas de sono ou das três refeições mais importantes do dia, mas, enquanto não arrumarmos tempo para dividir as responsabilidades de uma Educação maiúscula, sempre haverá culpados, e esses nem sempre serão os réus.


Lici Cruz

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

“Quero ver quem paga pra gente ficar assim”


Quando o gigante não controla a sua força, ele acaba destruindo a si próprio. Quando ele a desconhece ou acha que a conhece, o problema é maior ainda, pois destrói também os seus semelhantes.
Alguns estão levando para as ruas justamente o que querem que se acabe no governo (roubos/saques, sujeira, destruição, injustiça, vadiagem, baderna, desrespeito etc.).
A maioria que disse saber o que queria, na verdade só quis, mas não soube e não sabe que quando se junta muitos “quereres” quase não se sobra tempo para os planos de contenção.
São “guerreiros” que erguem muralhas com bases oníricas e esquecem que para as tais manterem-se de pé é necessário muito mais do que gritos de ordem. Esquecem que um império soberano e justo não se constrói ou se mantém enquanto não se controla uma minoria que tem mais sangue nos olhos do que nas veias. Olhos esses que são os únicos a ficar à mostra, mas que não enxergam a estupidez que o restante do corpo pratica. Olhos outros que a D. Justiça se nega a mostrar, talvez para, no inverso, tentar, além de não ver o que também fazem com o restante do país, não ver os lábios que gesticulam o seu nome como motivo de tanto primitivismo.
Os sujos querendo limpar os porcos com banho de lama! Totalmente ótimo isso! Vão em frente e ajudem a derrubar a carcaça de um Brasil que já está quase oco de tanto ser sugado por essa corja política. Vão lá, fé e foco que o serviço está quase pronto. Só não se esqueçam de lavar as mãos e apagar a luz quando saírem.


Lici Cruz

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Mahatma teacher


— Do you speak English?
— Yes?
— Ok, vamos lá...
— Não, pera.
— O que foi?
— Posso ir ao banheiro?
— Sim, pode, mas não demore.
(Dez minutos depois)
— Podemos continuar?
— Sim.
— Ok. How was your day yesterday?
— Er... good?
— Ok. What did you do yesterday?
— Essa eu sei. Ontem eu acordei, escovei os dentes...
— No...
— Sim, foi isso que eu fiz, e...
— No...
— Como você sabe que não foi? Fui eu quem fez!
— Yes, I know, but...
— But então deixa eu continuar!
— Yes, but you must speak in English, not in Portuguese.
— Ó, é vero! Mas por que não disse antes?
— ...
— Ok, ok... qual era a pergunta mesmo?
— In English.
— Eu sei, você já disse isso, mas qual era a pergunta?
— In English! You must speak in English, not in Portuguese!
— Oh my God! Ok.
— What did you do yesterday?
— De novo?
— What?
— Você já fez essa pergunta. É repetida.
— (Suspiro, muuuito profundo) Do you understanding me?
— Yes?
— So, can you answer me in English?
— YES, WE CAN! (valeu Obama!)
— I... Yes, I can! Not WE can!
— Mas eu disse I. Você ouviu WE?
— Did you say?
— Sim, eu disse.
— In English!
— Mas foi em Inglês que eu disse!
— Eu sei, mas estou pedindo para você falar todas as suas falas em inglês, todas, todas...
— Okeeey! Might I ask you a question?
— Yes… yes… (invocando o Hare Krishna)
— What did you do yesterday?
— Me?
— Yes, you.
— I woke up, brushed my teeth, took a shower and went to work. So, I worked and after I had lunch. After that, I worked again and, in the end of the day, I came back home, had dinner, used the computer, watched a movie and slept, and you?
— I did the same things as you! What a coincidence, isn't it?
— Ok... a aula acabou.
— In English, teacher, you must speak in English, not in Portuguese!

Lici Cruz

“Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações terá sido mera coincidência.”

Obs.: os erros do meu English very good, serão corrigidos conforme forem sendo notados. Agradeço a compreensão.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Movimento dos Caras-viradas e Bundas-pesadas



Ultimamente venho testando, com certa frequência, além das minhas habilidades como trapezista e equilibrista, minha capacidade, até então desconhecida por mim, em tirar paciência de situações dignas de voadoras com salto agulha. E tudo isso dentro de uma circular (ônibus). E tudo isso segurando bolsas, filho e indignações. O filho eu procuro ensinar, desde já, a respeitar o próximo e a ter a “educaobrigação” de ceder o espaço a quem precisa e tem todo o direito de estar nele. As bolsas e as indignações, eu planejo usá-las juntas, logo, logo...
É ensurdecedor a gritante falta de educação que se vê nesse ambiente. É nojenta a indiferença dos rostos que se viram para apreciar a bela paisagem, enquanto, do lado de dentro, vidas sendo geradas, vidas recém-começadas e vidas quase findas, disputam, em pé, um lugar para se apoiarem.
Que geração de infelizes é essa que tem a mente tão estúpida e vazia que não sustenta a incumbência de suportar o peso da própria bunda?!
É um espetáculo de mães equilibrando filhos, idosos tentando manter em pé o corpo trêmulo, gestantes protegendo vidas e ainda evitando “esbarrigar” em alguém da plateia. A mesma plateia que finge que não vê, que finge que dorme e que acredita que está certa.
Querido jovem, futuro e orgulho da nação, antes de pintar a cara e sair às ruas para reivindicar seus direitos, lave-a e comece a respeitar o direito do outro.


Lici Cruz

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Vários pedacinhos de um monte de coisa


Eu sou a razão convicta do que falo e escrevo. Estou sempre certa até que eu me prove o contrário, até que eu entenda de vez o que eu já havia me explicado, hiperbolicamente, mais de cem vezes. Sou também a dúvida paciente que dá voltas inteiras nos ponteiros do relógio e que se acaba no primeiro segundo de certeza que se teve. Sou as idas e vindas de luzes acesas ou apagadas, portas abertas ou trancadas, celulares esquecidos. Sou o ônibus perdido, a reunião começada, o despertador desligado, mas sei ser, às vezes, os cinco minutos antes da sala lotada. E cinco minutos para mim são mágicos, em cinco minutos eu encontro a solução, eu choro um rio inteiro, eu entendo a ordem, eu arrumo uma desordem, eu me alegro e me preocupo, mesmo que meus cinco nunca sejam cinco, mas, no mínimo, uns vinte minutos.
Sou o dedo na quina, o copo quebrado, a meia do avesso, o produto trocado, o que nunca me lembro de ser lembrado.
Sou a cautela da ignorância e o estresse da inteligência. Minha essência é um misto de erros e acertos que são mais erros quando vistos por olhos não meus. Mas, no silêncio da minha certeza, eu sempre sei o que de bom foi minha parte e quantas culpas eu derrubei pelo caminho.
Sou os pés nas nuvens e a cabeça no chão – o que me atrasa um bocado. Porém sou mais sim do que não. Não que isso seja bom, mas de todo mal também não é.
Pois é, é isso que sou, e é de tudo isso aí que sou feita – de vários pedacinhos de um monte de coisa.

Lici Cruz

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Questão de opinião


Poluição do ar agravada pela queima de pneus, lixo etc. Lixo espalhado pelas vias públicas, que, em caso de chuva, vai entupir os bueiros e causar alagamentos e enchentes. Mais presos nas cadeias, mais feridos em hospitais. Prejuízos causados por quem vai pagar depois e por aquele que "só estava passando", por aquele que estava vendo tudo pela TV, por aquele que teve seu estabelecimento depredado, enfim, por qualquer aquele que não seja a quem se quis atingir.
De um lado pedras, garrafas, sprays, fúria, lixo... do outro, bombas de gás, balas de borracha, sprays de pimenta, fúria, lixo...
O grau que se atingiu foi o de coisa ininteligível. Os que eram para serem certos foram oprimidos e espancados pelos que têm a função de assegurar que a violência não se faça. Os que eram para agirem certo foram chamados para conter, sem medidas, os que não mediram esforços, espaço, consequências...
Não estou do lado dos opressores por não ser a favor do baile da rainha da sucata, por não compactuar com um manifesto infesto de arroz de festa e desfocado de seu objetivo principal. Não quero pagar mais pela passagem também. Não achei meu dinheiro no lixo e não estudei para ser enrolada por ternos, gravatas e discursos decorados sobre o que não se pode fazer.
Acho errado sim a forma com que estão conduzindo a justa luta. Se o que se quer é a redução do preço e o aumento da qualidade, por que destroem? Qual é o intuito, a necessidade, o vínculo de baderna com justiça? A voz, as faixas e a marcha não bastam? Que povo fraco é esse que precisa de pedras, armas, vandalismo e fardas para fazer-se ouvir? Que povo é esse que quer respeito e não respeita sua própria gente? Que corja de governantes é essa que não tem nem vinte centavos de vergonha na cara, que mente à dor da gente, que acha pouco o muito que nos falta?
Senhores manifestantes parem de agir como animais. Senhores policiais parem de agir como ogros boçais e, principalmente, senhores “detentores do poder”, parem de agir como inocentes ignorantes, o povo sabe o que é possível e vocês também.

Lici Cruz

quinta-feira, 9 de maio de 2013

I think... (1)



Os momentos são únicos. Eles jamais se repetem com o mesmo valor, com a mesma intensidade ou com os mesmos sentimentos. E isso vale, também, para os momentos adiados. Eles jamais serão como eram para ter sido se tivéssemos obedecido a sua vez. Alguns deixam até de acontecer por se perderem no tempo. Outros, e a grande maioria, porque deixamos que se percam. E há ainda aqueles que cansam de esperar, apagam as luzes e dormem para sempre.

Lici Cruz

domingo, 14 de abril de 2013

A Lici e o Espelho 4




Lici: BOM DIAAAA, ESPELHO!
Espelho: Noooossa! Quanta animação! Dormiu com o Bozo? (o antigo é claro).
— Acordei bem, só isso.
— Uhum, eu sou um espelho, lembra?! Vai, conta tuuudo! Qual é o nome dele, quantos anos tem, posso olhar sem quebrar? Etc, etc, etc...
— Mas você é tonto, né?! Não tem nada demais... nem ninguém... quer dizer...
— Fala logo!
— Ah, é tipo assim: um beijo e um abraço que encaixam; uma conduta que não é reta, mas uma loucura que combina com a minha; um sorriso que derrete e uma pegada que ai meu Deus! Um cara que está bem distante de ser um príncipe encantado, mas que, entre lobo mau e Don Juan... é ele. É alguém que me faz bem e é, mais do que tudo, uma presença que faz falta...
— Nossa, estou sem palavras...
— Como assim?! Não vai me detonar? Nenhuma lição de moral, ironia ou zoação com a minha cara?
— Não... estou comovido, vou me retirar.
— Espelho! Espelho! Cadê o meu reflexo? ESPELHOOO! Não me assusta!
— ... (no image)
— Espelho! Tem um morcego me olhando estranho aqui na pia! Socooorro! Aaaaaaaahhhhhhh!!!



Lici Cruz


quarta-feira, 20 de março de 2013

Carta de alforria



Estou cansada disso tudo. Dessa coisa de querer e não poder, de certo sendo errado e errado sendo certo para alguns Vips. Cansada de ser obrigada a chorar primeiro para ganhar o direito de rir depois, ao invés de chorar de tanto rir. Cansada de fundir minha capacidade pensante, tentando encontrar soluções para problemas que nem ao menos foram criados por mim. Cansada de ser o problema. Cansada de esperar o querer do que ou de quem eu quero. Estou visivelmente cansada de ter que ouvir opiniões que não peço, de ser julgada pelo que não faço ou ser taxada do que não sou. Estou exausta de ouvir mentiras “necessárias” e elogios interesseiros. 
Não quero mais que queiram a minha felicidade, quero que a deixem para mim. Não quero conselhos, quero suporte para quando eu cair. Quero que escutem a minha voz, antes de darem nota pelo meu corpo.
Estou cansada de ser obrigada a ouvir “verdades”, que na verdade verdadeira, são baseadas em achismos. Estou definitivamente cansada de a minha direita ser sempre a esquerda do outro.
Contudo, não estou cansada da vida, afinal não pude aproveitá-la ainda. Estou esperando, pacientemente, há 29 anos, o carteiro chegar com uma correspondência que “diga”: “Você já está autorizada a viver, vá e seja feliz a sua maneira! Ass.: aqueles que não têm nada a ver com a sua vida.”.

Lici Cruz

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Qual é a cor do seu nome?



Não que eu não houvesse pensado nisso antes, mas há algum tempo, um senhor distinto, com aparência confiável e atitudes impactantes, foi, principalmente pela mídia, empossado como o primeiro presidente negro do Supremo Tribunal Federal brasileiro.
Há alguns passos da nação verde e amarela – e com alguns anos de antecedência –, outro homem fazia história como primeiro presidente negro da terra do hambúrguer. Agora, apresenta-se a possibilidade de a Sua Santidade ser, também e pioneiramente, um negro.
Agora, eu me (e vos) pergunto: e quem foram os primeiros brancos, os primeiros amarelos, os primeiros pardos, os primeiros mulatos? Quem foram os primeiros seres humanos com nome e sobrenome, que usaram o seu cérebro cor única e suas palavras e atitudes transparentes para fazer a diferença? Até quando vamos tratar e evidenciar as pessoas pelo tom de pele? Algo que, a meu ver, não é vitória alguma, mas sim que coloca a diferença racial como diferença de capacidade. Quando um “primeiro” consegue algum feito, é como se ele fosse diferenciado e superior a sua própria “raça”. É como se os outros de sua “espécie” não fossem capazes ou não tivessem coragem de atingir o próximo e mais alto nível (e ele foi lá e fez!). E isso é para todos, desde o primeiro rapper branco até o primeiro jogador de futebol oriental.
Meus caros coloridos, nosso DNA não tem cor, nosso sangue sim, e ele é, para todos, VERMELHO.
Pessoas devem ser identificadas, conhecidas e lembradas pelo nome, é para isso que recebemos um quando nascemos. Se o seu ou o de alguém que você conheça não for branco, preto, amarelo, laranja, não batize com os olhos.
Para quem não entendeu, fica assim: meu nome não é branca, é Lici Cruz, prazer em conhecê-lo(a). Qual é a sua graça?

Lici Cruz

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A Lici e o Espelho 3



Espelho: — BOOOM DI... Quê isso embaixo dos seus olhos???
Lici: — Avá! Tive uma noite horrível!
— Percebe-se. Essa cara de lua cheia não é normal rsrsrs.
— Dá pra parar?
— Ok... desculpa. Vamos lá, o que houve?
— Tive um pesadelo...
— Sonhou que tinha sido picada por abelhas na cara? Kkkkkk...
— Affff!
— Não, não, espera! Fala o que foi!
— Não vou falar mais nada!
— Vai, conta, para com isso! Eu quero te ajudar.
— Ah, eu estava em uma festa, acho que era um show, sei lá, parecia uma boate... um cara “mó” lindo chegou em mim e disse que, desde que eu havia chegado, ele não conseguia tirar os olhos de mim e tals...
— Hum...
— Daí ele veio se aproximando... aproximando... aproximando... e...
— SIM! E???
— E quando foi me beijar ele deu um grito assustador e saiu correndo.
— Como assim??? Por quê???
— Não sei, não me lembro bem... acho que era algo com pelos...
— Pelos???
— É... pelos...
— Espera aí, chega mais perto... um pouco mais... mais... AI, JESUS! AFAAASTA! TIRA ESSE BIGODE ASSASSINO DAQUIIIII!!!
Aaaaaaaahhhhhhh!!!
— Aaaaaaaahhhhhhh!!!

Lici Cruz

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Desabafo de uma mulher, esquecido em um diário cor de adolescência



Hoje eu senti um medo assustador, redundante em nome e feeling. E se eu morresse daqui a pouco?! Logo ali! Pensei logo em largar o cigarro, a bebida, a carne e o corpo, fazer exercícios e educar o meu “temperamento putaqueopariu”, mas estressei-me só de pensar. Ok, uma pausa. Um cigarro para acalmar e um copo de cerveja para relaxar.
Pronto, o fantástico circo do meu cérebro iniciou mais uma vez suas atividades. Hoje, e não sei por que hoje, ele resolver exibir “O” show. Como se fosse o último de sua vida.
As sinapses, frenéticas, faziam malabares alucinados com as informações. Os neurônios resolveram ousar no trapézio e retiraram a rede de proteção, mesmo sabendo que muitos deles poderiam morrer. E o Cérebro, com sua cara enrugada, assistia a tudo com um ar satisfeito.
Eis que, depois de a consciência domar “os leões dos problemas acumulados”, o Cérebro chama o palhaço. A alegria do circo.
“Respeitável público! Com vocês, o palhaço Coração!”
Atrapalhado, ele entra capengando. Mas, como sempre, consegue arrancar risos da plateia cheia de razão. Não contente, o Sr. Cérebro, com sua voz dura e insensível, exige do Coração mais ousadia. Então o palhaço, satisfazendo o poderoso chefão, venda os olhos, sobe em uma escada íngreme e quilométrica e salta para um buraco negro, denominado pelo dono do espetáculo de “Fosso dos Desejos”.
A plateia revoltada se divide em pena e condenação de burrice ao ser de nariz vermelho, mas aplaude fervorosa e histericamente, quando o apresentador, com suas sobrancelhas tediosas, pronuncia: “Calma, pessoal, ele não morreu. É acostumado e treinado para este número. Faz isso há anos. E agora, aplausos! Porque o show tem que continuar!”.


Lici Cruz

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Eu quero ser uma FDP



Uma breve sobre mim, que para muitos pode não significar nada. Minha casa era de madeira andante, o assoalho rangia seus dentes e o vento fazia a festa entre os poros arrombados das paredes. Pois é. Assim aprendi o que é ser gente.
Hoje, minhas garras afiadas procuram cifrões honestos, porém obesos. Minha capacidade? Tem como acrescentar mais zeros a direita?
Até quando sucesso será considerado apologia ao crime? Até quando o coração inflamado de amor terá que tomar antibióticos de contenção? Até quando o “deixa pra lá” fará parte das minhas decisões?
Não gosto de pobre de oportunidade/capacidade. Tenho preconceito sim! Preconceito contra o comodismo, o mesmo comodismo pré-histórico dos capacitados.
Eu posso não ter nascido campeã de natação ou recordista em levantamento de pesos, mas sei lavar, passar, cozinhar (especialidade) e domesticar sentimentos agressivos. Sou medalha de ouro em carinho e já ganhei dois Oscars como melhor atriz em fingir que não precisava de retribuição pelos sentimentos bons que eu oferecia, além de ser a mãe mais mãe do ano*. Tenho criatividade fênix para solucionar problemas. Meu maior defeito? Perfeccionismo irritante. Qualidade magistra? Sou intensa demais! PHD em choro e vela e em riso com dor abdominal.
Tenho sonhos sim, inclusive ganhar na Mega-sena sem jogar, mas gosto também daquele em que ralo, luto e definho para alcançar meu sucesso dourado. Mesmo sabendo que no fim desse arco-íris cheio de calos, de mãos e de alma, vou encontrar, reluzente e soberba, uma galera com placas de manifesto “antimeusucesso” ao lado do MEU pote de ouro.
Pois é, haverá críticas quando eu ganhar meu primeiro mil. Com meus primeiros dez mil, com certeza ganharei o título de “Miss Vadia”. Porém agradecerei a Deus, em primeiro lugar, aos meus queridos e as minhas “outras pessoas”, quando eu for uma FDP** com meu primeiro milhão.

*Tendo como jurados eu e meu filho.
** Perdoe-os, mãe, eles não sabem o que dizem.

Lici Cruz

domingo, 20 de janeiro de 2013

O buraco



“Como vai você... eu preciso saber da sua vida...”. Não... não preciso... já estou servida de vida. Mãs... o que você anda fazendo com a sua camada de ozônio? Sim, sua CAMADA DE OZÔNIO!
Vou te explicar (ou tentar)...
Você nasce, cresce e morre... ok, mas no meio dessa moleza toda você pisca, e várias vezes, e entre esses “piscares” você aprende, constrói, destrói, sente, ignora, chora, ri, aprende de novo, grita, respira... respira... enfim, a maioria chama isso de viver... e dizem que é mau, mas vivem porque é bom... (vai entender!).
No meio dessa confusão toda que chamam de vida, o que mais “rola” é reclamação... reclamam, principalmente, porque não querem morrer, porque querem continuar a sustentar algo que não gostam... é aí que entra a camada de ozônio...
O quanto você polui sua vida com inutilidades? Não inutilidades materiais, afinal um par de sapatos novos eleva o ego e nos facilita o caminhar... digo a inutilidade de importância, de valor, de sentimentos, do culto e satisfação com a ignorância... isso tudo, a meu ver, é poluição. Isso tudo causa e se aproveita do buraco em nossa camada de ozônio. Começam como poluição “inofensiva” e, depois que perfuram (por nosso consentimento) nossa camada de respeito, evoluem para raios “ultraviolentos” e queimam nosso amor próprio. E, quanto mais invadem nossa vida, mais o buraco se expande (entendam como a poluição de suas mentes preferir) e mais somos queimados. E fica mais difícil se recuperar, voltar a crescer e morrer com dignidade.

Lici cruz

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

OS TOPS DOS ANOS 90 - PARTE II

MODERNIDADE






 PAÍS POBRE?



A MAIOR RESSACA MORAL DO POVO BRASILEIRO... OU NÃO?!















Se quiserem ler melhor os escritos, é só clicar nas imagens. Se ainda ficar difícil, cliquem nas imagens e as salvem em seu pc, a qualidade está excelente ;) 

sábado, 5 de janeiro de 2013

OS TOPS DOS ANOS 90

GALERA






CRIATIVIDADE






CULTURA

(Nota: canibalismo também é cultura. Pobre orelha de Van Gogh)


TECNOLOGIA



Aguardem mais tops dos anos 90!


Se quiserem ler melhor os escritos, é só clicar nas imagens. Se ainda ficar difícil, cliquem nas imagens e as salvem em seu pc, a qualidade está excelente ;)