Uma
breve sobre mim, que para muitos pode não significar nada. Minha casa era de
madeira andante, o assoalho rangia seus dentes e o vento fazia a festa entre os
poros arrombados das paredes. Pois é. Assim aprendi o que é ser gente.
Hoje,
minhas garras afiadas procuram cifrões honestos, porém obesos. Minha
capacidade? Tem como acrescentar mais zeros a direita?
Até
quando sucesso será considerado apologia ao crime? Até quando o coração
inflamado de amor terá que tomar antibióticos de contenção? Até quando o “deixa
pra lá” fará parte das minhas decisões?
Não
gosto de pobre de oportunidade/capacidade. Tenho preconceito sim! Preconceito
contra o comodismo, o mesmo comodismo pré-histórico dos capacitados.
Eu
posso não ter nascido campeã de natação ou recordista em levantamento de pesos,
mas sei lavar, passar, cozinhar (especialidade) e domesticar sentimentos agressivos.
Sou medalha de ouro em carinho e já ganhei dois Oscars como melhor atriz em
fingir que não precisava de retribuição pelos sentimentos bons que eu oferecia,
além de ser a mãe mais mãe do ano*. Tenho criatividade fênix para solucionar
problemas. Meu maior defeito? Perfeccionismo irritante. Qualidade magistra? Sou intensa demais! PHD em
choro e vela e em riso com dor abdominal.
Tenho
sonhos sim, inclusive ganhar na Mega-sena sem jogar, mas gosto também daquele
em que ralo, luto e definho para alcançar meu sucesso dourado. Mesmo sabendo
que no fim desse arco-íris cheio de calos, de mãos e de alma, vou encontrar,
reluzente e soberba, uma galera com placas de manifesto “antimeusucesso” ao
lado do MEU pote de ouro.
Pois
é, haverá críticas quando eu ganhar meu primeiro mil. Com meus primeiros dez
mil, com certeza ganharei o título de “Miss Vadia”. Porém agradecerei a Deus,
em primeiro lugar, aos meus queridos e as minhas “outras pessoas”, quando eu
for uma FDP** com meu primeiro milhão.
*Tendo
como jurados eu e meu filho.
**
Perdoe-os, mãe, eles não sabem o que dizem.
Lici Cruz