quarta-feira, 19 de junho de 2013

Vários pedacinhos de um monte de coisa


Eu sou a razão convicta do que falo e escrevo. Estou sempre certa até que eu me prove o contrário, até que eu entenda de vez o que eu já havia me explicado, hiperbolicamente, mais de cem vezes. Sou também a dúvida paciente que dá voltas inteiras nos ponteiros do relógio e que se acaba no primeiro segundo de certeza que se teve. Sou as idas e vindas de luzes acesas ou apagadas, portas abertas ou trancadas, celulares esquecidos. Sou o ônibus perdido, a reunião começada, o despertador desligado, mas sei ser, às vezes, os cinco minutos antes da sala lotada. E cinco minutos para mim são mágicos, em cinco minutos eu encontro a solução, eu choro um rio inteiro, eu entendo a ordem, eu arrumo uma desordem, eu me alegro e me preocupo, mesmo que meus cinco nunca sejam cinco, mas, no mínimo, uns vinte minutos.
Sou o dedo na quina, o copo quebrado, a meia do avesso, o produto trocado, o que nunca me lembro de ser lembrado.
Sou a cautela da ignorância e o estresse da inteligência. Minha essência é um misto de erros e acertos que são mais erros quando vistos por olhos não meus. Mas, no silêncio da minha certeza, eu sempre sei o que de bom foi minha parte e quantas culpas eu derrubei pelo caminho.
Sou os pés nas nuvens e a cabeça no chão – o que me atrasa um bocado. Porém sou mais sim do que não. Não que isso seja bom, mas de todo mal também não é.
Pois é, é isso que sou, e é de tudo isso aí que sou feita – de vários pedacinhos de um monte de coisa.

Lici Cruz

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Questão de opinião


Poluição do ar agravada pela queima de pneus, lixo etc. Lixo espalhado pelas vias públicas, que, em caso de chuva, vai entupir os bueiros e causar alagamentos e enchentes. Mais presos nas cadeias, mais feridos em hospitais. Prejuízos causados por quem vai pagar depois e por aquele que "só estava passando", por aquele que estava vendo tudo pela TV, por aquele que teve seu estabelecimento depredado, enfim, por qualquer aquele que não seja a quem se quis atingir.
De um lado pedras, garrafas, sprays, fúria, lixo... do outro, bombas de gás, balas de borracha, sprays de pimenta, fúria, lixo...
O grau que se atingiu foi o de coisa ininteligível. Os que eram para serem certos foram oprimidos e espancados pelos que têm a função de assegurar que a violência não se faça. Os que eram para agirem certo foram chamados para conter, sem medidas, os que não mediram esforços, espaço, consequências...
Não estou do lado dos opressores por não ser a favor do baile da rainha da sucata, por não compactuar com um manifesto infesto de arroz de festa e desfocado de seu objetivo principal. Não quero pagar mais pela passagem também. Não achei meu dinheiro no lixo e não estudei para ser enrolada por ternos, gravatas e discursos decorados sobre o que não se pode fazer.
Acho errado sim a forma com que estão conduzindo a justa luta. Se o que se quer é a redução do preço e o aumento da qualidade, por que destroem? Qual é o intuito, a necessidade, o vínculo de baderna com justiça? A voz, as faixas e a marcha não bastam? Que povo fraco é esse que precisa de pedras, armas, vandalismo e fardas para fazer-se ouvir? Que povo é esse que quer respeito e não respeita sua própria gente? Que corja de governantes é essa que não tem nem vinte centavos de vergonha na cara, que mente à dor da gente, que acha pouco o muito que nos falta?
Senhores manifestantes parem de agir como animais. Senhores policiais parem de agir como ogros boçais e, principalmente, senhores “detentores do poder”, parem de agir como inocentes ignorantes, o povo sabe o que é possível e vocês também.

Lici Cruz