sexta-feira, 4 de abril de 2014

O BOM NOSSO DE CADA DIA


Quando levamos uma vida social ativa (por exemplo, trabalho, contato com seres da mesma espécie), saímos não somente de casa, mas também da nossa casca protetora e individual. Nesse processo diário e rotineiro, precisamos (e como precisamos!) fazer uso de uma poção mágica chamada “interação social”. De fato que no início é um pouco mais difícil para alguns e até, no decorrer do tempo, limitado para outros, mas é preciso ao menos uma dose diária para que nossos dias possam... digamos... fluir.
Como elementos base dessa poção, temos a família, os colegas de trabalho, os amigos, o tio da padaria, o motorista do ônibus, a vendedora da loja de calçados, o porteiro, a recepcionista do consultório médico e tantos quantos caibam em nossas possíveis dezesseis horas diárias de olhos abertos. Já para ativar as propriedades sociais desses elementos, fazemos uso de um pó mágico chamado “comunicação”, o qual dispensa definições.
Para que toda boa poção se complete e tenha o efeito esperado, é necessário o uso correto de palavras mágicas, que variam conforme a necessidade e a ocasião. E é aí que a coisa costuma desandar. Muita gente confunde, por exemplo, um “Oi!”, um “Olá!” com um “Bom dia!”. “Mas tia Lici, não é a mesma coisa?”. Não.
Palavras mágicas como “Bom dia!” devem (pelo menos deveriam) ser pronunciadas com o poder e a verdadeira intenção que têm. Não é um simples cumprimento, é um desejo de um BOM dia que se faz.
Já vi e ouvi (ou só vi, porque às vezes só os lábios se mexem, som que é bom nada) e vejo/ouço todos os dias, pessoas “olhando” umas para as outras e balbuciando um “bom dia” para o chão, para a parede, para alguma alma penada que estava passando por ali no momento (ui, arrepiei!) ou até para o seu próprio intestino (que é onde deve ir parar o “bom dia” engolido).
É sério! Qual a necessidade de dizer algo tão bom, sem querer, sem ânimo e com tanta indiferença? Eu sei, não existe lei que obrigue, que meça a intensidade ou que institua a análise da veracidade de um genuíno “Bom dia!”. Mas, valha-me Deus! É até pecado tanto desânimo (ou mau-humor?!)! 
É assim, e assim ficamos: se não quer que seja bom, que seja “Oi!”. Caso não tenha “tempo para essas frescuras sociais”, combinamos o seguinte: balance a cabeça e dê um sorrisinho, se possível, para não assustar a nossa criança interior, e entenderemos o recado. 



Lici Cruz