sábado, 8 de março de 2008

Pesadelo


*“Você nunca viu olhos tão terríveis como estes que estão ao seu redor agora!”
Uma noite tranqüila
Os olhos se fecham
O corpo respira
Os olhos se fecham
A mente se abre
A mente... mente
Para o seu inconsciente.
A embriaguez da alma
Alma que deixa o ser
Alma que flutua... sem querer
Faz o que não é pra fazer
Vê o que não quer ver
Morcegos gigantes
Monstros satânicos
Luzes que não acendem.
Está tão longe a segurança
Que a mão não a alcança.
Os olhos se fecham ainda mais...
Há também algo
Algo que não deve ser lido
Mas há uma voz que não se cala
E lê o que está escrito.
Os ouvidos se fecham ainda mais...
Mas ainda ouvem a frase* do findar.
E então os olhos se abrem
Abrem para a ilusão
E ele está lá
Não se sabe ao menos quem é
Mas está lá
Envolto em vestes brancas
Muitos e brancos são os panos
E tão debaixo este se esconde
Que da face somente vê-se os olhos.
E ainda as mãos
Que em posição de piedade
Vêm clamar com palmas incessantes.
E outra mão oculta levemente impercebível
Vai saindo por dentre os panos
Vai de encontro ao corpo ardente
Que arde de tanto espanto
E este mesmo tenta um gritar inútil
A súplica não se ouve
E o corpo está mudo
Não reage... é o fim de tudo...
Até o socorro faz parte do abstrato.
Mas a ilusão se finda
E a ajuda agora é real
O quarto ainda é escuro
Mas está livre do mal.
O alívio vem em lágrimas
E no transpirar do espírito
Um espírito que finalmente vai descansar
Em uma noite tranqüila
Onde os olhos se fecham
E o corpo respira.

Lici Cruz

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

...


Eu fumo
Eu bebo
Eu faço bagunça
Eu viro de ponta cabeça e ninguém me acha
Nesse mundo mais pirado do que eu
Eu canto
Eu grito
Eu viro do avesso
Eu cato estrelas do céu com o dedo
Eu brigo
Eu bato
Eu arranho
Eu não toco
Eu voo alto
Eu durmo no chão
Eu rasgo
Eu amasso
Eu ando com as mãos
Mas não mato
É fato
Porque falta um retrato na minha coleção.


Lici Cruz

...


O meu sorriso já não é mais o mesmo
As minhas lágrimas já não rolam por essa face dura de medo
O meu nome já não é tão dito
No mais é cuspido
Às vezes lembrado
Sussurrado coitado
Meu talento já não espera mais nada
Minha luta não valeu essa alma rasgada
A pose do meu corpo já não se põe de pé
Meus dentes já não mastigam sua carne delicada
Minhas pernas já não se arriscam de madrugada
É deplorável ser eu
É insuportável conviver comigo
É inevitável ser meu inimigo
A minha estrada já não dá no mesmo jardim
A minha vida hoje não vale mais do que uma costela arrancada
Tão similar há tempos atrás
Mas é que antes meus olhos brilhavam mais...



Lici Cruz

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

...


Quando você acha que já não pode mais.
Que é o fim.
Você começa a perceber que apenas começou.
Que ainda pode muito.
Percebe que a luta só está começando.
Percebe que suas forças não acabaram, mas se tornaram maiores.
Então você percebe, que o tempo não é somente o que te dão para fazer algo, mas sim aquele que você cria para estar com alguém...por mais que este alguém não tenha tempo para estar com você.
Então você percebe, que por mais que a morte seja o descanso do corpo e da alma, o fim de toda dor e toda tristeza, às vezes é preciso atravessar tempestades, furacões e vendavais, mas continuar vivendo a aventura de uma vida.
Percebe que não são só armas que ferem, palavras e atitudes também.
E percebe que palavras e atitudes, também podem salvar vidas.
E você percebe que as pequenas estrelas são muito importantes para o céu, mesmo com a existência de um Sol e de uma Lua.
Percebe que só porque algumas pessoas não te compreendem, isso não significa que o mundo está contra você, que o mundo, todo o mundo, não gosta de você, pois o mundo, o universo de alguém, pode ser você.
Percebe que a beleza de uma rosa, não está somente na maciez de suas pétalas ou no encanto da sua cor, mas no perfume que exala do seu interior.
Então você percebe, que não adianta você correr dos problemas, eles podem se tornar tão grandes, que te derrubaram mais adiante.
Percebe que fechar os olhos para determinadas situações pode não ser o melhor remédio, pois ao abri-los você enxergará somente a destruição, as ruínas, a devastação, pelo simples ato de ter ignorado.
Então você percebe que por mais que você perceba, algumas coisas sempre passam despercebidas em nossas vidas.
Percebe que não importa quantos tombos você caiu, mas quantas pessoas te ajudaram a levantar e a quantas você estendeu a mão.
E só então você aprende, que para começar a aprender o valor que você tem diante da vida e do mundo, ainda é necessário muito tempo de aprendizado, talvez toda sua vida.
Mas percebe que não é o fim. E se achar que é, saiba então, que o fim é um grande começo. Que o fim pode ser o primeiro passo para descobrir o valor de uma vida.
E que sempre haverá vidas que só terão valor, se você existir.


Lici Cruz

Based on William Shakespeare

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Senhora


Vivia na opulência
Mas não queria sua vivência
Para não ter que ver
Seu filho crescer
Já se sentia na velhice
Estava velha e só
E na sua ausência
Lhe restavam apenas
A carcaça e o pó
Mas em seu peito ainda havia
Um coração que batia
Em compasso de segundo
Quase parando,
Quase deixando este mundo
Mas antes de padecer
Precisava enlouquecer
Pobre senhora
Uma rosa que murchou
E que agora chora...
Ilusões a enganavam
Seus músculos atrofiavam
Seus lábios caídos
Deixavam que o mel de uma vida
Escorresse leve ainda
E seus olhos agora fundos,
Como um vidro de perfume
Que para baixo induz seu cume
Derramavam seu conteúdo
E ela às pressas
Logo os enxuga
Faz um trajeto
Contornando as rugas
Mas por mais que o líquido seja doce
Oh! Quem dera se jovem fosse
Mais doce seria...mais doce...
Lici Cruz

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Felicidade Onde Estais


Tristes sonhos
Procuramos e achamos
Felicidade onde estais?
Na última estrela do céu
Ou na beira do cais?
Mercúrio ou plutão?
Me encontre no sol
Ou sob a lua me tire dessa solidão
Felicidade tu me anseias
Venha a mim, invada meu corpo
Percorra minhas veias
Encha meu coração
Órgão tão submisso
Cansado de sofrer
Tua ausência me enlouquece
A fúria e a ira tomam conta
O meu cérebro não te conhece
Se apresente
Que um sentimento
De um calor ardente
Chamado “amor”
A acompanhará na sua timidez
Ah! Se você soubesse a falta que me faz
Felicidade onde estais?
Na última estrela do céu
Ou na beira do cais?

Lici Cruz