sábado, 14 de abril de 2012

O cavalo




E de repente o trânsito parou. Verdes, vermelhos e amarelos. Buzinas? Silêncio de cortejo.
Tião olhou para um lado e para o outro. Justiceiro também. Justiceiro? O cavalo. E seguiram e atravessaram tantas quantas ruas sem que um ruído fosse exclamado. Pelo contrário. Suspiros. E balõezinhos-nuvens que “diziam”:
“Nossa, há quanto tempo eu não via um cavalo!”
“Ah, como seria tudo... galopar sem destino, sentindo o vento nos cabelos!”
“Vou comprar um haras!”
“Que carinha triste a daquele cavalo...”
“Um cavalo?!”
E o cavalo atravessou. E no fim da travessia suspirou... confessou... em balãozinho, é claro:
“Mais uma travessia, mais um dia. Quem dera fosse rio. Quem dera fosse brisa. A comida é basta, mas não é graminha fresca com sabor de orvalho. Mas quem sou eu? Cavalo? É, sou e ‘o’ sou. E puxo o sustento e o lamento. E ‘bora’ trabalhar para não acabar como os milhares de cavalos presos nesses motores.”
Enquanto isso, lá no fundo, bem atrás, surge mais uma “nuvem”.
“Por que essa fila não anda? Estou atrasado!”


Lici Cruz

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