segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Da ética de se vender o voto. E não entregar.


Ouvi dizer que tem candidato a vereador pagando até R$ 5 mil pra a pessoa adesivar o carro. E quem me disse não tem o hábito de mentir. Aliás, apareceu com o carango todo colorido de uma figura que busca a reeleição.

“Tás vendo aí, gordinho? Conhece esse cara?”
Eu não conhecia.
“Tu acha que eu vou votar nele? Vou nada. Mas tou liso, sabe como é. Peguei R$ 5 mil e ela ainda bota gasolina no meu carro”.
Não deveria ser novidade. Há muito tempo que conhece a prática de se ‘alugar’ muros de casas, especialmente nas comunidades da periferia. No interior, onde as disputas eleitoras normalmente são marcadas por cores (azul x amarelo, vermelho x verde), também é costume oferecer-se dinheiro para que se coloque bandeiras de um lado ou do outro no telhado das residências.
“É só propaganda”, uns argumentam. “É uma forma disfarçada de compra de votos”, insistem outros. “Abuso de poder econômico”, “Crime eleitoral”. Cada um define de um jeito.
A verdade é que o papo com o amigo me lembrou outro, há alguns anos, no interior alagoano. Conheci uma menina que era alucinada pelo período eleitoral.
“Sabe porque? Eu vendo meu voto. Vendo mesmo. Sem pena. Vendo em vários bairros, a vários cabos eleitorais diferentes. Eles fazem a listinha, pegam número do título, zona eleitoral. Tem candidato que paga R$20, tem uns que pagam R$ 50.  Dependendo até mais. Tem eleição que eu consigo até fazer reforma na minha casa”.
Ao perceber meu embasbaque diante de tal revelação, a galeguinha explicou.
“Eles podem até saber onde eu voto, mas nunca vou saber em quem eu votei. E digo mais: quem compra meu voto tá automaticamente descartado. O cara que compra voto não vale nada e não merece ser eleito para cargo nenhum”.
De fato, por mais que sejam seus mecanismos de medição, o político não tem absolutamente nenhuma forma de saber exatamente quem votou nele e quem deixou de votar. Na verdade, faz-se um cálculo aproximado a partir das zonas eleitorais em que os cabos eleitorais ‘garantem’ uma determinada quantidade de votos. Quando não entrega, é natural que estas lideranças (??) percam a legitimidade para atuar em futuras campanhas.
Mesmo se pudesse saber o ‘culpado’ de sua ‘encomenda’ não ser entregue, o candidato faria o quê? Denunciaria no Procon?
Conheço um ex-político (sim, existe) que indignou-se com a “falta de ética” do povo. Endividou-se, pegou dinheiro onde não tinha e espalhou cidade afora para garantir a votação que precisava. Levou um ‘calote’ dos eleitores e não teve saída a não ser deixar a vida pública.
Valeu?

Ivan Moraes Filho

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