Encontre
o erro de coerência nas frases: “Mãe diz aplicar Botox na filha de sete anos
para evitar rugas no futuro.”, “Menino de dez anos trabalha doze horas por dia
para ajudar no sustento da casa, e diz que seu maior sonho é, um dia, poder ir
à escola.”, “Depois dos quarenta, ex-Miss Universo, obcecada pela beleza, fica
com parte do rosto queimado após tratamento estético.”, “Rogério Ceni diz que
está no auge da sua carreira e que se sente um menino ainda, e renova contrato
com o São Paulo até 2020.” – ok, essa última foi zoação, mas o assunto é sério.
Se
você não encontrou nada de anormal nas três primeiras frases, é bem provável
que você sofra da “Síndrome da negação ou da falta de noção etária”, cujos
sintomas e efeitos são a adultização de crianças, com a destituição pueril e
quebra de qualquer direito à infância; e a não aceitação do amadurecimento e
evolução do processo natural humano, resultando na perda da noção de tempo, da
capacidade de viver e do sentido do por que se vive.
A
dor de ver o tempo agir em nossos músculos, em nossa pele, em nossa memória; de
ver nossos sonhos, antes tão inteiros e convictos, “Darwinizarem-se” e, para
não se extinguirem, tornarem-se “desejos de um dia quem sabe...”; essa dor toda
de chão pisado, de cabelos perdidos e de olhos cansados, não é e nunca será
maior do que a dor de olhos novos impedidos de brilharem e de mãos e pés,
pequenos e ágeis, proibidos de bolas, bonecas e conquistas. Essa dor também pode
até parecer mais intensa, mas nunca será tão cruel como a de um corpo se
despedindo da sua alma. Corpo esse que, tardiamente, se arrependeu pelo egoísmo
de ter “cuidado” tanto de si próprio, ao ponto de nunca ter dado a essa alma,
sequer, um par de sonhos novos, ou perguntado como ela estava se sentindo, como
tinha sido o seu dia ou se ela precisava de algo.
A
vida é sim passageira, mas quem decide a prudência ou a imprudência do trânsito
ainda é o motorista. Portanto, se encher a cara de estupidez ou abusar na
ignorância, peça ajuda ou espere o ignóbil efeito passar.
Não arrisque a sua
vida. Não acelere a vida do outro. Alguns caminhos ou atitudes podem não ter volta.
Lici Cruz
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