Lici: Bom dia!
Espelho: Bom dia, minha linda!
—
Espelho, você está bem?
— Estou
ótimo! E você também parece estar muito bem...
—
Espelho, eu não estou te reconhecendo. O que aconteceu? Por que essa gentileza toda?
— Nada,
minha Deusa...
—
Deusa?! Espelho, você bebeu Xampu? Enxaguante bucal? É o calor? Você jamais, em
estado normal, iria me tratar bem assim...
— É que
andei refletindo, sabe, e percebi o quanto gosto de você. Quando você acorda
pela manhã com aquele seu cabelo “Lion King” e aqueles olhos inchados – às
vezes só um aberto –, com aquela remelinha brilhante no cantinho. Quando você
dá aquele seu lindo sorriso, tentando desgrudar os lábios, com aquela babinha
alva e seca que se estende do canto da boca até o lóbulo da orelha. Pensei
também no amarrotado da sua pele esculpido pelas dobras do lençol, e ainda naquela
voz de locutor de rádio de notícias que, às vezes, me dá um certo medinho, mas
logo vejo que é você mesmo. Gosto também quando você escova os dentes e me olha
com aquela boca cheia de espuma, parecendo um cão raivoso, acho super
engraçadinho... e quando você ergue os braços para arrumar o cabelo e vejo aquele
tríceps de benzedeira balançando... me sinto abençoado... você me preenche,
sabe... principalmente quando surge de corpo inteiro. Às vezes até me sinto
pequeno diante de você...
— Você
é um estúpido, Espelho! Um idiota-ignorante!
— Ei,
volta aqui! Isso é o que dá querer agradar! Se sou realista, reclama. Se sou
sensível e carinhoso, reclama. Nada está bom pra você e... Lici, espera! Calma!
Vamos conversar! Onde você arrumou esse martelo?! Você nem tem martelo em
casa!
— Aaaaaaaahhhhhhh!!!
— Aaaaaaaahhhhhhh!!!
Lici Cruz
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