domingo, 13 de outubro de 2013

A Lici e o Espelho 5


Lici: Bom dia!
Espelho: Bom dia, minha linda!
— Espelho, você está bem?
— Estou ótimo! E você também parece estar muito bem...
— Espelho, eu não estou te reconhecendo. O que aconteceu? Por que essa gentileza toda?
— Nada, minha Deusa...
— Deusa?! Espelho, você bebeu Xampu? Enxaguante bucal? É o calor? Você jamais, em estado normal, iria me tratar bem assim...
— É que andei refletindo, sabe, e percebi o quanto gosto de você. Quando você acorda pela manhã com aquele seu cabelo “Lion King” e aqueles olhos inchados – às vezes só um aberto –, com aquela remelinha brilhante no cantinho. Quando você dá aquele seu lindo sorriso, tentando desgrudar os lábios, com aquela babinha alva e seca que se estende do canto da boca até o lóbulo da orelha. Pensei também no amarrotado da sua pele esculpido pelas dobras do lençol, e ainda naquela voz de locutor de rádio de notícias que, às vezes, me dá um certo medinho, mas logo vejo que é você mesmo. Gosto também quando você escova os dentes e me olha com aquela boca cheia de espuma, parecendo um cão raivoso, acho super engraçadinho... e quando você ergue os braços para arrumar o cabelo e vejo aquele tríceps de benzedeira balançando... me sinto abençoado... você me preenche, sabe... principalmente quando surge de corpo inteiro. Às vezes até me sinto pequeno diante de você...
— Você é um estúpido, Espelho! Um idiota-ignorante!
— Ei, volta aqui! Isso é o que dá querer agradar! Se sou realista, reclama. Se sou sensível e carinhoso, reclama. Nada está bom pra você e... Lici, espera! Calma! Vamos conversar! Onde você arrumou esse martelo?! Você nem tem martelo em casa!
— Aaaaaaaahhhhhhh!!!
— Aaaaaaaahhhhhhh!!!

Lici Cruz

Nenhum comentário: