Que a
vida é breve isso é sabido, e é quase nato da gente saber disso. Porém, mais
efêmera do que o nosso desfile por esse mundo, é a nossa vida útil. E como essa
utilidade é precipitadamente descartável quando julgada por outros.
Todos
os dias e a todo instante, várias “amizades” são desfeitas, relacionamentos
desrelacionados, acordos rompidos, promessas não cumpridas, palavras não ditas,
amores desamados, presenças evitadas ou repugnadas, sonhos abandonados. Tudo
pelo mesmo motivo, a insatisfação.
As
pessoas estão cada vez mais urgentes da felicidade plena, e qualquer coisa ou
alguém que destoar um tantinho dos seus propósitos e concepções, é descartado,
rápida, grosseira e até indiferentemente.
Estamos
tão substituíveis e imediatos que estamos perdendo a nossa capacidade de
conviver com os nossos espinhos. E todos nós os temos. Os espinhos dos
defeitos, dos problemas, das mágoas, do passado (mal) vivido, das doenças, das
carências, dos distúrbios, da estética “imperfeita”. Além disso, procuramos no
outro, o tempo todo, a maior quantidade possível de espinhos para que possamos
justificar a nossa ausência, a nossa aversão, o nosso julgamento e a nossa
verdade. E é aí que falhamos. Por nos prendermos e atentarmos tanto aos maus
predicados e aos detestáveis atos do outro, nos recusamos a enxergar a Rosa que
ele carrega, as que já carregou e as que ele ainda irá carregar. E, muitas
vezes, nessa cegueira, deixamos de perceber a nossa própria Rosa. E todos nós a
temos.
Saber
conviver com os espinhos e destacar as boas qualidades no meio desses “maus”
atributos, é dar sentido à vida útil, é tornar sua inevitável brevidade mais
prazerosa e menos frustrada e é, acima de tudo, entender que por mais complexo
e extenso que pareça ser o caminho até às Rosas, na maioria das vezes, apenas
parece.
Lici Cruz
Nenhum comentário:
Postar um comentário